quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Uma vida por uma vida

Era mais uma tarde comum na rotina de Fernando. Depois de um dia tranquilo de trabalho, estava no mercado, à pedido da esposa, comprando alguns itens que faltavam em sua casa.
Fraldas, leite em pó. Essas coisas acabam muito depressa.
Fernando não se lembra de ter gastado tanto com seu primeiro filho, mas a sua nova bebê estava consumindo demais.
Claro que ele não se importava. Tinha orgulho de seus filhos e da família que estava construindo.

Descia as escadas rolantes do mercado, tranquilamente, quando percebeu a aproximação de três homens armados e uniformizados que passaram apressados por ele.
Percebeu que o homem do meio estava carregando uma mala, e os outros dois tinham pistolas em punho.
Como estava em um bairro relativamente calmo de uma grande cidade, Fernando estranhou o fato de eles estarem tão tensos. Havia medo em seus olhos, o que o deixou atento.
Conhecendo a natureza humana como ele conhecia, sabia do grande perigo que era estar próximo à um homem armado e assustado.
Ao sair do primeiro lance de escada, Fernando mudou o rumo, para não estar próximo aos homens armados, optando por seguir no caminho contrário.

Ainda refletindo sobre os perigos de estar próximo à homens armados e assustados, Fernando deu de frente com dois jovens de aparência perigosa, subindo pelo lance de escadas pelo qual ele pretendia descer.
Se assustou e percebeu que um dos jovens estava tirando um revólver que estava preso à sua cintura e o apontou na direção dos seguranças que se preparavam para descer o segundo lance de escadas.
Tudo aconteceu muito rápido.

Incapaz de assistir à um assassinato a sangue frio passivamente, Fernando soltou as sacolas e se meteu em um corpo à corpo com o jovem. A arma foi apontada para o alto enquanto estavam disputando sua posse, e antes que Fernando pudesse tirá-la das mãos do jovem, ele a disparou.
Foi um tiro para o alto, mas o bastante para que todos no mercado ficassem desesperados.

Durante a luta, Fernando não pensava em sua jovem esposa em casa, cuidando de seus dois filhos. Não pensava que o mais velho o esperava para ajudá-lo com as tarefas, e nem no sorriso que sua bebê daria ao vê-lo chegar e pegá-la em seus braços. Durante a luta, Fernando só queria evitar que alguém se machucasse.

Seguindo barulho da luta, o segurança que havia sido salvo pela reação de Fernando, chegou com sua pistola brilhante em punho. Ao ver que Fernando portava a arma se colocando contra o bandido que se contorcia no chão, apontou a pistola em direção ao peito daquele que havia salvado sua vida.
Numa mistura de medo e inexperiência, ao perceber que Fernando se virava em sua direção, a reação do segurança foi disparar.
Um único tiro certeiro.

Fernando não esperava por aquilo. Estava sorrindo por ter evitado uma morte quando sentiu a forte pancada no peito.
Olhou sem acreditar para a mancha escura que crescia sob sua camisa. Sentindo as forças o abandonando, deixou cair a arma, e olhou inexpressivo para aquele que o havia atacado injustamente.

Em casa, sua filha, que acabará de completar o primeiro ano, chorava sem motivo. A preocupação de sua esposa crescia a medida que o tempo passava e não obtinha resposta do marido, que jamais ficava muito tempo sem responder às suas mensagens.

O jovem que portava a arma tinha apenas dezessete anos, e não foi preso. Pôde seguir com sua vida, buscando novas oportunidades de se aperfeiçoar na arte do crime.

O segurança foi indiciado, mas nunca foi preso. Continuou com seu trabalho depois de alguns meses.

A esposa chorou por semanas, mas teve se seguir firme com sua vida, cuidando de seus filhos. Sempre se lembra do marido quando olha para o filho mais velho, que carrega seu olhar e seu sorriso. Jamais se recuperou completamente da saudade de se deitar ao lado do homem que amava.

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